IV Encontro Virtual de Escritores Lusófonos prestará homenagem ao poeta português Eugénio de Andrade
O público poderá conectar-se com autores de Itália, Portugal, Macau, Moçambique e Brasil
IV Encontro Virtual de Escritores Lusófonos prestará homenagem ao poeta português Eugénio de Andrade
De terça-feira, 26 de dezembro, a sábado, 30 de dezembro, o público poderá assistir, diariamente, a encontros com diferentes escritores. O homenageado desta edição é considerado o mais universal dos poetas portugueses contemporâneos. A programação cultural destaca a Venezuela, enquanto país de acolhimento de uma grande comunidade de língua portuguesa, disse o Embaixador João Pedro Fins do Lago.
O IV Encontro Virtual de Escritores Lusófonos realiza-se, este mês de dezembro, integrado nas comemorações do centenário do nascimento de Eugénio de Andrade, uma das mais seletas vozes da poesia portuguesa do século XX, “a Idade de Ouro da poesia portuguesa contemporânea” e reunir cinco escritores de diferentes nacionalidades, que escrevem sobre realidades e temas diversos, todos utilizando o português como língua comum.
Este Encontro Virtual conta com o apoio da Embaixada de Portugal em Caracas, Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, Coordenação para o Ensino do Português na Venezuela, Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços), Correio da Venezuela, Centro de Língua Portuguesa de Maracay e Centro de Língua Portuguesa de Caracas.
A realização deste ciclo de encontros evidencia a Venezuela enquanto país de acolhimento de uma grande comunidade de língua portuguesa. “O ensino do português está em contínua, rápida e significativa expansão. Cada vez mais escolas ensinam português. Em apenas um ano letivo, passamos de perto de 7,5 mil alunos para cerca de 11 mil. Assim, neste cenário de crescente interesse pela língua de Eugénio de Andrade, vale a pena dar a conhecer, através do Poeta, a importância e o valor da nossa língua no tempo presente e as portas que ela abre para o futuro”, afirmou o Embaixador de Portugal em Caracas, João Pedro Fins do Lago.
Para Rainer Sousa, Coordenador do Ensino de Português na Venezuela, o Encontro Virtual de Escritores Lusófonos é uma iniciativa que nasceu exclusivamente na Venezuela, durante o período de pandemia e está previsto continuar nos próximos anos, mantendo a aspiração de se vir a tornar num evento presencial com a participação de académicos, e com o “objetivo de promover o diálogo e a interação entre estudantes e escritores, estimulando assim o hábito pela leitura em língua portuguesa”.
UM AUTOR PARA CADA DIA DA SEMANA
O professor italiano Federico Bertolazzi, professor de literatura portuguesa na Universidade de Roma “Tor Vergata” e especialista na obra de Eugénio de Andrade, inaugurará o encontro na terça-feira, dia 26. O professor traduziu e organizou as edições italianas do português- autores oradores e publicou estudos como “Noite e Dia da Mesma Luz. Aspectos da Poesia de Eugénio de Andrade” (Lisboa, 2010); “Con la Notte di Profilo. Brevi saggi su Eugénio de Andrade” (Roma, 2011) e “Por Mares que só Eu Sei. Le canzoni, il Teatro, la prosa di Chico Buarque” (Roma, 2011).
Na quarta-feira, dia 27, será a vez da escritora portuguesa Ana Cristina Silva, premiada autora de 15 romances e professora do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, em Lisboa. Em 2017 ganhou o Prémio Fernando Namora pelo romance “A Noite Não é Eterna” (2016). Recebeu também o Prêmio Literário Urbano Tavares Rodrigues pelo romance “O Rei do Monte Brasil”. Publicou ainda os romances “Salvação” (2018), “As longas noites de Caxias” (2019) e, em 2022, “À procura da manhã Clara”.
“Macau deu-me a oportunidade de escrever”, afirmou Shee Vá, escritor de língua portuguesa convidado para o encontro de quinta-feira, dia 28, que visa difundir a cultura chinesa nas comunidades de língua portuguesa. Este autor começou a escrever “relativamente tarde” e entre as suas publicações encontram-se os romances “Boi Cabeça, Cavalo Cara”, “Uma Ponte para a China”, e “Espíritos”.
O escritor e professor universitário moçambicano Dany Wambire será o protagonista do encontro lusófono de sexta-feira, dia 29. Publicou inúmeras antologias no Brasil e em Portugal. O seu livro “A fecunda fertilidade e outros contos” recebeu menção honrosa no Prémio Internacional José Luís Peixoto (2013). Publicou também “O curandeiro contratado pelo meu edil” (2015), “Quem manda na selva” (2016), “A mulher sobressalente” (2018) e “Toninho e a vaca letreira” (2020).
O encontro terminará com a intervenção do escritor brasileiro Luíz Eduardo de Carvalho, homem de teatro, professor, jornalista e gestor cultural. Com uma dezena de títulos publicados e mais de 70 prémios, já participou em dezenas de antologias, feiras e bienais literárias. É autor de “Relatos de Sampa” (2014), “O Teatro delirante”, “Sessenta e Seis Elos”, “Xadrez”, “Quadrilha” (2020) e “Crônicas do ofício” (2022).
UM FAROL POÉTICO
Este encontro literário de 2023 é dedicado a Eugénio de Andrade, filho de um casal de camponeses, nascido a 19 de janeiro de 1923, na aldeia portuguesa de Póvoa de Atalaia, perto da fronteira com Espanha. É um dos principais autores lusos e o mais universal dos poetas portugueses contemporâneos, com uma obra lírica “das mais luminosas”, segundo o veredito do júri do Prémio Camões, que o escritor recebeu em 2001 e que equivale ao Prêmio Cervantes na Espanha.
Para o Embaixador João Pedro Fins do Lago, o homenageado é “um farol poético, que ilumina as paisagens mais íntimas da alma humana. O seu legado é uma ode à simplicidade e à ligação entre a natureza e os sentimentos, que marcou, profundamente, a poesia portuguesa contemporânea. Seus versos, imbuídos de musicalidade subtil e sensibilidade excepcional, transcendem gerações, convidando-nos a refletir sobre a essência da existência humana e a abraçar a beleza, nos detalhes mais simples da vida.”
PAIXÃO PELA NATUREZA
Aos treze anos, Eugénio de Andrade, cujo pseudónimo era José Fontinhas, escreveu o seu primeiro poema: “Narciso”. Em 1942 publicou o seu livro de versos “Adolescente” e ganhou o reconhecimento dos leitores com “As mãos e os frutos” (1948), considerada uma das mais importantes coletâneas de poemas da literatura portuguesa atual.
Durante a sua carreira, escreveu 30 livros de poesia, prosa e obras infantis, que foram traduzidas para mais de 20 idiomas. Durante a sua vida, recebeu vários prémios. O seu estilo é influenciado pelo ambiente da sua infância: a natureza e a paisagem do Sul da Europa. “A pureza de que tanto se falou em relação à minha poesia, é simplesmente paixão, paixão pelas coisas da terra, na sua forma mais ardente e ainda não consumada”, declarou certa vez.
José Saramago reconheceu Eugénio de Andrade como um dos melhores poetas portugueses e disse que a sua obra “é uma poesia do corpo na sua essência física, mas, ao mesmo tempo, uma espécie de ascensão à luz”.
Eugénio de Andrade publicou, entre outros, “Daqui houve nome Portugal” (1968), “Limiar dos Pássaros” (1976), “Memória doutro Rio” (1978), “Rente ao Dizer” (1992) e “O Sal da Língua” (1995), “Pequeno Formato” (1997), “Lugares do Lume” (1998) e “Os Sulcos da Sede” (2001). Também se destacou como tradutor de Federico García Lorca, Safo, René Char, Yannis Ritsos, César Vallejo e Jorge Luís Borges.
Faleceu com 83 anos, no dia 13 de junho de 2005, após uma longa doença neurológica degenerativa.
“No centenário do seu nascimento, Eugénio de Andrade surge como uma figura determinante na literatura portuguesa contemporânea, especialmente na poesia pós-Revolução dos Cravos, de 25 de abril de 1974. A sua obra, marcada por diferentes fases e géneros, incluindo a poesia infantil, transcendeu gerações”, observou o professor Rainer Sousa.
Segundo Rainer de Sousa, a figura de Eugénio de Andrade é única e especial na abordagem a uma cultura que une milhões de falantes no mundo, para “a preservação e divulgação de um rico património cultural e linguístico que abrange várias regiões, ligando comunidades e facilitando o entendimento entre as pessoas de diferentes origens.”
O IV Encontro de Escritores Lusófonos realizar-se-á de 26 a 30 de dezembro, às 18h (Venezuela) e às 22h (Portugal), nos canais do Instagram: @cepe.vzla; YouTube: Coordenação de Ensino Português no Estrangeiro Vzla e Correio da Venezuela; as contas do Facebook: Cepe.vzla, Correio da Venezuela e Embaixada de Portugal em Caracas; e no Twitter: @CepeVzla.